terça-feira, 27 de outubro de 2009

GESTAR II – MUNICÍPIO DE JURAMENTO/MG

RELATÓRIO DA OFICINA 8 DE 03/10/09

Em virtude de reposições aos sábados na escola onde as cursistas trabalham, a oficina que seria realizada com nossa turma no dia 26/09,foi transferida para dia 03/10 no município de Juramento, após atividades de reposição que aconteceram nesse dia.

Num primeiro momento, para abrir os trabalhos, foi tocada uma música chamada “Estrela de chão”, do cantor e compositor Alexandre Andrés e as cursistas receberam uma cópia da letra. O objetivo de iniciar a oficina com uma canção foi continuar abordando as noções de Estilo que foram discutidas no encontro anterior e também propiciar um ambiente relaxante e tranqüilo com uma boa música.

As cursistas apreciaram muito a canção que não era conhecida, até porque o cantor está iniciando sua carreira, e foram comentadas as relações de sentido da letra bem como suas metáforas e a parte que cada uma achou mais bonita.

Após a canção, foi apresentado o filme “Narradores de Javé”, plano que não foi possível na oficina anterior. O filme aborda a história de um povoado que está prestes a desaparecer por completo com a construção de uma barragem que irá alagar o local. Preocupados com a destruição do lugar onde moram e também de suas origens, de suas tradições e de suas histórias, os moradores se reúnem a fim de tentarem encontrar uma solução que impeça o desaparecimento do lugarejo.

Entra em cena Antônio Biá, ex-carteiro do povoado que fora expulso pelos moradores por causa de seus trambiques e que é o único morador capaz de realizar a façanha de escrever a história do local para poder convencer os donos da usina a não construírem a barragem por lá e não destruírem o vilarejo. Os narradores são os próprios moradores que, a seu modo, vão pincelando com seu toque peculiar a história das origens de Javé entremeadas com suas histórias particulares. O filme despertou muito o interesse das cursistas que também gostaram muito dos ditados populares e expressões típicas do personagem Antônio Biá.

Terminada a apresentação do filme, foram feitas algumas considerações sobre a história, aliadas às questões sobre Letramento (TP4) e Estilo e Coerência (TP5). Os pontos mais relevantes foram discutidos a partir das seguintes perguntas:

Proposta de Análise do filme “Narradores de Javé”

1) O que significa fazer o “o papel de escriba”?

2) Qual o papel do escriba naquela comunidade?

3) Analise os traços de oralidade daquela comunidade.

4) Qual a relação entre oralidade e escrita?

5) Analise as práticas de letramento daquela comunidade.

6) Como você percebe a relação entre ser alfabetizado e ser letrado no contexto do filme?

7) Em que atividades práticas, no contexto da sala de aula, você exerce o papel de escriba?

8) Qual a importância do escriba na construção da leitura e da escrita?

9) Aponte as marcas estilísticas dos narradores da cidade .

10) Como a coerência é construída no filme?

Ressaltamos o papel da escrita para uma comunidade e o peso que aqueles que fazem o papel de escriba têm para a sociedade. A escrita sempre teve uma relevância muito forte em toda a história da humanidade e pode-se dizer que seu desenvolvimento foi fundamental para todo o avanço que o mundo conhece nos mais variados setores. O texto escrito, o registro, a escritura têm valor inestimável. São os registros do passado que ajudaram a construir a história e fazem com que ela seja conhecida e entendida hoje.

Aquela comunidade abarcava ricas histórias de seu povo, de suas crenças e tradições, no entanto, tudo estava “na boca do povo”, eram registros orais. Não havia documento escrito, não havia registro válido que conferisse aos olhos dos poderosos a importância que aquele local tinha para aquelas pessoas.

As práticas de letramento e alfabetização são bem marcantes no filme. Constatamos que mesmo aqueles que sabiam ler não se sentiam prontos a fazerem o registro da história de Javé, sendo preciso recorrer ao inimigo público número 1, Antônio Biá, para que ele tentasse resolver o problema. É o que acontece com quem é alfabetizado, mas não tem letramento, sabe ler,mas não sabe interpretar ou mesmo produzir textos.

O filme também dá margens a enfoques interessantes a respeito do estilo,uma vez que Biá tem um estilo inconfudível, com suas expressões típicas. Constatamos que ele fala o dialeto do local, mas possui o idioleto que é um traço mas marcante,mais individual e peculiar. Algumas de suas expressões ou ditos populares foram até registradas pelas cursistas que se deleitaram com suas pérolas. Entre elas destacamos: “Ta achando que eu sou espermatozóide de ninja?”, “Não confunda Harbeas Corpus com Corpus Christie”, “Isso aqui tá parecendo reveillon de muriçoca.”, “Bando de abelha menstruada.” ... entre outras.

O filme foi considerado riquíssimo pelas cursistas, não apenas por destacar as questões acerca do letramento e do estilo, mas também do regionalismo e do jogo do poder daqueles que veem apenas seus próprios interesses e não se importam em destruir a cultura, a história e a vida de pessoas humildes.

Após as discussões sobre o filme, retomamos alguns pontos da TP5, nas duas primeiras unidades, a pedido das próprias cursistas a fim de esclarecer algumas dúvidas acerca de Estilo.

Como a apresentação do filme tomou grande parte da oficina, não foi possível fazer a troca de experiências dos Avançando na Prática. Foram cobrados assuntos de ordem prática, como os relatórios e marcados plantões para definição do projeto.

Foi uma oficina agradável, diferente das demais em todos os aspectos, até mesmo com relação ao local onde aconteceu. O filme foi muito bem aceito e as discussões bem interessantes.

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