quarta-feira, 12 de maio de 2010
- É bom mesmo o cafezinho daqui, meu amigo?
- Sei dizer não senhor: não tomo café.
- Você é dono do café, não sabe dizer?
- Ninguém tem reclamado dele não senhor.
- Então me dá café com leite, pão e manteiga.
- Café com leite só se for sem leite.
- Não tem leite?
- Hoje, não senhor.
- Por que hoje não?
- Porque hoje o leiteiro não veio.
- Ontem ele veio?
- Ontem não.
- Quando é que ele vem?
- Tem dia certo não senhor. Às vezes vem, às vezes não vem. Só que no dia que devia vir em geral não vem.
- Mas ali fora está escrito "Leiteria"!
- Ah, isso está, sim senhor.
- Quando é que tem leite?
- Quando o leiteiro vem.
- Tem ali um sujeito comendo coalhada. É feita de quê?
- O quê: coalhada? Então o senhor não sabe de que é feita a coalhada?
- Está bem, você ganhou. Me traz um café com leite sem leite. Escuta uma coisa: como é que vai indo a política aqui na sua cidade?
- Sei dizer não senhor: eu não sou daqui.
- E há quanto tempo o senhor mora aqui?
- Vai para uns quinze anos. Isto é, não posso agarantir com certeza: um pouco mais, um pouco menos.
- Já dava para saber como vai indo a situação, não acha?
- Ah, o senhor fala da situação? Dizem que vai bem.
- Para que Partido?
- Para todos os Partidos, parece.
- Eu gostaria de saber quem é que vai ganhar a eleição aqui.
- Eu também gostaria. Uns falam que é um, outros falam que outro. Nessa mexida...
- E o Prefeito?
- Que é que tem o Prefeito?
- Que tal o Prefeito daqui?
- O Prefeito? É tal e qual eles falam dele.
- Que é que falam dele?
- Dele? Uai, esse trem todo que falam de tudo quanto é Prefeito.
- Você, certamente, já tem candidato.
- Quem, eu? Estou esperando as plataformas.
- Mas tem ali o retrato de um candidato dependurado na parede, que história é essa?
- Aonde, ali? Uê, gente: penduraram isso aí...
Fonte:
Texto extraído do livro "A Mulher do Vizinho", Editora Sabiá - Rio de Janeiro, 1962.
postado por Magister, às 18:26
Tags:o escritor com a palavra
GESTAR II - MUNICÍPIO DE JURAMENTO/MG
RELATÓRIO DA OFICINA DE 13/03/10
PARTE I
A oficina do dia 13 de março de 2010, em seu primeiro momento abordou os principais assuntos do TP1, nas unidades 1 e 2: As variações linguísticas e suas inter-relações com a Língua e a Cultura. Esse tema é bem amplo e sempre provoca discussões interessantes, uma vez que a língua é dinâmica, envolvente e está intrinsecamente relacionada com o contexto cultural de que faz parte e que ajuda a construir.
O estudo do TP foi feito de forma agradável, procurando sempre a participação das cursistas. O conceito de dialeto e de registro foi bastante focalizado e ampliado, pois com a abordagem trazida pelos estudos formou-se um conhecimento mais substancial acerca dos mesmos. A norma culta e seu ensino na sala de aula, tema sempre carregado de controvérsias, foi também assunto que mereceu destaque. Ficou claro que seu ensino nas aulas de português é essencial para que o aluno consiga transitar entre as várias manifestações da linguagem e se mostrar apto para as exigências que o mundo moderno traz para com seu uso. O que deve ser orientado a ele é que as variações existem e devem ser respeitadas, elas fazem parte da cultura de um povo, de uma localidade ou de um grupo, e como tais, merecem legitimidade. No entanto, não se pode desconsiderar o prestígio da norma culta na sociedade e cabe à escola propiciar seu conhecimento a fim de que os alunos sejam capazes de utilizá-la nas diferentes situações de comunicação.
Isso revela o caráter dinâmico da proposta do Gestar, pois o que devemos garantir como educadores é que os alunos adquiram autonomia no uso da língua diante das diversas situações em que eles estarão inseridos em seu cotidiano. Essa perspectiva revela o quanto que a proposta é condizente com as necessidades do ensino da Língua e com as habilidades importantes de leitura e escrita de que nossos alunos necessitam. Ouso dizer que o ensino da norma culta é uma ação não só pedagógica,mas também social, pois propiciar aos alunos a oportunidade de falar e escrever bem é proporciona-lhes maiores chances de se destacarem no mercado de trabalho e no meio em que eles vivem.
PARTE II
No dia 13 de março, tivemos uma oficina diferenciada, pois ela foi construída num total de 8 horas, dividida em 2 partes. Como relatado acima, a primeira parte foi realizada com cada formador e suas respectivas cursistas e, depois, foi uma oficina coletiva.
Nessa segunda, iniciamos com a apresentação teatral do texto “Conversinha Mineira”, de Fernando Sabino, encenado por duas formadoras, a fim de ilustrar o assunto variações lingüísticas. Estive presente na encenação, fazendo o papel do mineiro dono da leiteria e foi gratificante participar desta peça ao lado de Julimar que fazia o forasteiro cheio de perguntas sobre a cidade. O mineiro é sempre uma figura caricatural no imaginário popular, com o seu falar caipira, seu jeito desconfiado e de prosa cheia de redemoinhos na linguagem, sem explicar direito o que de fato quer dizer. Interessante que essa pequena encenação do texto do brilhante Fernando Sabino ilustra bem não só a questão da variação, mas também seu entrelaçamento com a cultura, mostrando a íntima relação da língua com o meio que a utiliza.
Pegando o mesmo gancho do tema, na seqüência foi apresentada a música “Zaluzejo”, de Fernando Anitelli, idealizador do Grupo Teatro Mágico. A partir dessa encenação teatral e dessa música, foi feito um amplo debate acerca das variações lingüísticas, tendo como referência as discussões trabalhadas no primeiro momento da oficina, bem como os conhecimentos de cada cursista acerca do assunto.
Como foi um total de 8 horas de oficina, contando com a primeira parte, considero que foi um encontro dos mais prazerosos. O objetivo era realmente fazer uma oficina menos desgastante nessa segunda etapa, e os resultados foram ótimos. As cursistas demonstraram bastante empenho na atividade em grupo e apresentaram trabalhos muito interessantes.
RELATÓRIO DA OFICINA DE 27/02/10
Como era uma oficina livre, selecionamos o tema foi a organização do planejamento de Língua Portuguesa para o Ensino Fundamental, assunto bastante oportuno no momento, uma vez que é nesta fase do ano que as escolas exigem a entrega do planejamento anual a fim de que o serviço pedagógico possa acompanhar o trabalho dos professores. Nesse sentido, um planejamento discutido com vários profissionais da área é sempre uma boa chance de agregar conhecimento, informações e ideias.
No início do encontro, as cursistas foram recebidas no pátio para uma acolhida. Um valioso texto de Rubem Alves, autor de grande referência na Educação, intitulado "A caixa de brinquedos", foi lido e a partir dele foi feita uma breve reflexão. O texto faz um questionamento interessante sobre o que realmente ensinamos aos nossos alunos. Será que só ferramentas? Ou será que o prazer, o deleite não servem para nada? Na sequência, foi oferecido um café da manhã às cursistas para inciarmos, a seguir, os trabalhos.
Foi feita uma sucinta explanação acerca da importância do planejamento. Muitos professores veem o planejamento como algo enfadonho que todo ano precisa ser feito, como se fosse um peso. Mas na verdade, tudo que fazemos, desde uma lista de compras antes de ir ao supermercado, requer um planejamento, do que precisamos, do dinheiro que temos para poder gastar. Mais elaborado ainda é o trabalho em sala de aula que necessita de um planejamento articulado com a realidade dos alunos e com as habilidades que ele precisa de fato aprender.
A partir de então, os grupos foram divididos de acordo com os 4 anos do Ensino Fundamental e cada grupo fez seu planejamento conforme o ano destinado a sua equipe, tendo como parâmetros o CBC, os temas e metodologias do Gestar, além do auxílio dos programas dos livros didáticos.
Na programação inicial, a atividade culminaria na socialização das discussões e dos planos construídos em conjunto para toda a turma. No entanto, como as discussões demandaram um tempo acima do esperado, por solicitação das próprias cursistas, esse momento foi adiado para o próximo encontro que será no dia 13 de março.
Foram passadas as instruções para a próxima oficina, além de todo o cronograma até o final do curso, destacando o fato de que muitas oficinas terão duração de 8 horas devido ao prazo limite estipulado pela secretaria de educação. Ficou acordado o estudo do TP1 e suas duas primeiras unidades, bem como a aplicação do Avançando na Prática correspondente a elas.
Levando-se em conta que as discussões ultrapassaram o tempo estimado para atividade e que, além disso, o tema despertou bastante interesse, ainda na explanação, é possível concluir que a oficina foi bem proveitosa. E, por que não dizer, prática, uma vez que o planejamento é exigido em todas as escolas neste período do ano e sempre surgem dúvidas quanto a ele, então, uma elaboração em grupo é muito mais rica e articulada.
domingo, 21 de março de 2010
GESTAR II / MUNICÍPIO DE JURAMENTO/MG
RELATÓRIO DA OFICINA DE 12/12/09
No dia 12 de dezembro, foi realizada a última oficina do Gestar de 2009. Foram estudadas as unidades finais do TP 6, cujos temas eram: O processo de produção textual: revisão e edição e Literatura para adolescentes.
Tivemos um momento de descontração no início em que distribui às cursistas algumas lembrancinhas e uma mensagem de Mário Quintana, antecipando já os bons votos de Natal e Ano Novo. Procuramos fazer uma oficina mais leve, uma vez que o período em que estamos fechando o ano letivo é sempre carregado de ansiedade e cansaço. Eis a mensagem:
A idade de ser feliz
Existe somente uma idade para a gente ser feliz.
Somente uma época na vida de cada pessoa e que é possível sonhar e fazer planos e ter energia para realizá-los, a despeito de todas as dificuldades e obstáculos.
Uma só idade para a gente se encantar com a vida e viver apaixonadamente e desfrutar tudo com toda intensidade sem medo nem culpa de sentir prazer.
Fase dourada em que a gente pode criar e recriar a vida à nossa própria imagem e semelhança e vestir-se com todas as cores e experimentar todos os sabores.
Tempo de entusiasmo e coragem em que todo desafio é mais um convite à luta que a gente enfrenta com toda disposição de tentar algo novo, de novo e de novo, e quantas vezes for preciso.
Essa idade tão fugaz na vida da gente chama-se PRESENTE, também conhecida como AGORA ou JÁ e tem a duração do instante que passa...
(Mário Quintana)
A seguir, fizemos o estudo do TP considerando vários aspectos importantes. Um deles que mereceu destaque foi o processo de produção textual, levando em conta a revisão e a edição. É um processo que requer amplo planejamento, uma vez que os alunos ainda consideram a revisão como uma espécie de punição, sendo que, na verdade, é um processo de aprimoramento do texto. E cabe ao professor desfazer esse pensamento equivocado. O processo de escrita na escola ainda precisa ser amplamente renovado, para que nossos alunos escrevam com eficiência. Não queremos que todos sejam escritores ou jornalistas, não é essa a pretensão. Mas queremos que eles possam ter autonomia e habilidade para produzir os mais variados textos que possam surgir em diferentes situações comunicativas em que estarão inseridos.
Também discutimos muito a abordagem da literatura para adolescentes nas escolas. O livro literário não deve ser visto como mero pretexto para uma prova e se servir a esse único fim. Desse modo, ao invés de estimular o interesse pelos livros, poderá ser criada uma verdadeira aversão à leitura, sobretudo, dos clássicos.
É certo que os alunos têm ao seu redor uma gama muito variada de informações, ou seja, de leitura. Portanto, a costumeira frase que diz que os jovens de hoje não lêem precisa ser revista. Afinal, eles lêem muitos outros suportes, raras vezes são os livros. É papel da escola propiciar o espaço para a construção da leitura e avaliar de que forma os alunos fazem suas leituras, em vez de dar ênfase apenas à quantidade.
Questionamos também que, muitas vezes, o próprio sistema mutila essa possibilidade de leitura por prazer. O vestibular é um exemplo claro disso, pois os livros indicados e que devem ser lidos pelos vestibulandos acabam se tornando material para perguntas de múltipla escolha. O prazer pela leitura e a percepção literária acabam ganhando a denotação limitada do certo e errado das alternativas.
A leitura deve ser apresentada de forma criativa, interativa, que permita o desenvolvimento de várias habilidades como interpretar, associar idéias e, sobretudo, que desperte o prazer pelo ato de ler. Sabemos que nem todos os alunos vão gostar de ler, não devemos ter essa ilusão, mas tentar criar situações em que eles possam desfrutar da leitura, sentindo nela um mundo de possibilidades é o nosso dever.
Na seqüência, houve a exposição dos Avançando na Prática, momento sempre muito rico em que as trocas são possíveis e estimulam muito o trabalho de todos.
Após a avaliação da oficina, foi feito uma confraternização, com um lanche coletivo no qual as cursistas puderam se encontrar com colegas de outras escolas e criar um ambiente de socialização.
Foi uma oficina descontraída, diferente das outras, pois procuramos desde o seu planejamento tornar o ambiente agradável, a fim de proporcionar momentos de interação, descontração e não apenas de análises teóricas. Sabemos o quanto os professores se encontram cansados no final do ano, com o acúmulo de trabalho no decorrer de todos os bimestres e chegar nessa etapa do curso já é uma grande vitória. Esperamos que no próximo ano elas voltem com mais energia e dedicação para buscar cada vez mais o avanço no processo de ensino-aprendizagem.